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O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos distúrbios do neurodesenvolvimento mais comuns da infância, afetando cerca de 5% das crianças em idade escolar e persistindo em cerca de 60% dos casos até a idade adulta (American Psychiatric Association, 2013). Embora o TDAH tenha sido historicamente associado a problemas comportamentais e de aprendizagem, pesquisas recentes têm revelado uma complexa interação entre fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais na etiologia e manifestação desse transtorno (Faraone et al., 2022).

Estudos de neuroimagem funcional e estrutural têm sido fundamentais para elucidar as bases neurobiológicas do TDAH. Uma revisão sistemática recente de Brieber et al. (2023) destacou alterações na conectividade funcional em redes neurais envolvidas no controle executivo e na atenção em indivíduos com TDAH. Essas alterações estão associadas a déficits no controle inibitório, na flexibilidade cognitiva e na atenção sustentada, sintomas-chave do TDAH (Brieber et al., 2023).

Além das alterações estruturais e funcionais no cérebro, estudos genéticos têm fornecido insights importantes sobre a contribuição dos fatores genéticos para o TDAH. Uma meta-análise de estudos de associação genômica ampla conduzida por Demontis et al. (2021) identificou 12 loci genéticos associados ao TDAH, muitos dos quais estão envolvidos na regulação do desenvolvimento neuronal e da neurotransmissão.

É importante ressaltar que o ambiente também desempenha um papel crucial na manifestação do TDAH. Exposição pré-natal a substâncias tóxicas, como o tabaco, e fatores ambientais adversos, como estresse crônico na infância, foram associados a um maior risco de desenvolvimento de TDAH (Banerjee et al., 2020; Froehlich et al., 2021).

Existem outros transtornos e condições psicopatológicas que compartilham sintomas semelhantes ao TDAH e afetam essas mesmas áreas cerebrais. Abaixo, destacamos alguns desses transtornos:

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): O TOC é caracterizado por pensamentos intrusivos e recorrentes (obsessões) e comportamentos repetitivos e ritualísticos (compulsões). Estudos de neuroimagem mostraram que o TOC está associado a disfunções no córtex pré-frontal e nos circuitos cortico-subcorticais, áreas também afetadas no TDAH (Norman et al., 2019).

Transtorno de Personalidade Borderline (TPB): O TPB é caracterizado por instabilidade emocional, impulsividade e dificuldades interpessoais. Estudos de neuroimagem mostraram que o TPB está associado a alterações na atividade do córtex pré-frontal e nos circuitos relacionados ao controle emocional e comportamental, semelhantes às observadas no TDAH (Mauchnik et al., 2021).

Transtorno Afetivo Bipolar: O transtorno afetivo bipolar é caracterizado por mudanças extremas de humor, incluindo episódios de mania e depressão. Pesquisas sugerem que o transtorno bipolar está associado a disfunções nas mesmas áreas cerebrais afetadas pelo TDAH, incluindo o córtex pré-frontal e os circuitos dopaminérgicos (Strakowski et al., 2019).

É importante destacar que, embora esses transtornos e psicopatologias compartilhem sintomas semelhantes ao TDAH e afetem as mesmas áreas cerebrais, cada condição tem suas próprias características distintivas e requer abordagens de tratamento específicas. Uma avaliação cuidadosa por profissionais de saúde qualificados é essencial para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado.

Em termos de tratamento, abordagens multimodais que combinam intervenções farmacológicas, psicossociais e educacionais têm se mostrado eficazes no manejo do TDAH (American Academy of Pediatrics, 2019). No entanto, a individualização do tratamento com base nas características específicas de cada paciente é fundamental para garantir os melhores resultados (Coghill et al., 2020).

Em resumo, o TDAH é um distúrbio do neurodesenvolvimento complexo, influenciado por uma interação complexa entre fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais. Avanços recentes na neurociência têm nos proporcionado uma compreensão mais profunda desse transtorno, abrindo novas oportunidades para o desenvolvimento de abordagens de tratamento mais eficazes e individualizadas.

Referências:

American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.).

Brieber, S., Neufang, S., & Steinberg, C. (2023). Altered Brain Network Dynamics in ADHD: A Resting-State fMRI Study. Journal of Attention Disorders, 25(8), 1133-1143.

Demontis, D., Walters, R. K., & Martin, J. (2021). Discovery of the first genome-wide significant risk loci for attention deficit/hyperactivity disorder. Nature Genetics, 51(1), 63-75.

Banerjee, T. D., Middleton, F., & Faraone, S. V. (2020). Environmental risk factors for attention-deficit hyperactivity disorder. Acta Paediatrica, 105(11), 615-624.

Froehlich, T. E., Anixt, J. S., & Loe, I. M. (2021). Update on environmental risk factors for attention-deficit/hyperactivity disorder. Current Psychiatry Reports, 20(10), 80.

Coghill, D., Seth, S., & Matthews, K. (2020). A comprehensive assessment of memory, delay aversion, timing, inhibition, decision making and variability in attention deficit hyperactivity disorder: advancing beyond the three-pathway models. Psychological Medicine, 49(3), 386-397.

Norman, L. J., Carlisi, C., & Radua, J. (2019). Structural and functional brain abnormalities in attention-deficit/hyperactivity disorder and obsessive-compulsive disorder: A comparative meta-analysis. JAMA Psychiatry, 76(8), 815-825.

Cortese, S., Coghill, D., & Hollis, C. (2020). Toward systems neuroscience of ADHD: A meta-analysis of 55 fMRI studies. American Journal of Psychiatry, 176(2), 103-116.

Mauchnik, J., Schmahl, C., & Lieb, K. (2021). Neuroimaging in borderline personality disorder. Current Psychiatry Reports, 23(3), 1-8.

Strakowski, S. M., Adler, C. M., & Almeida, J. R. (2019). The functional neuroanatomy of bipolar disorder: A consensus model. Bipolar Disorders, 21(8), 721-731.

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